sábado, 9 de agosto de 2008

Lost in translation V


Estava na praia de Ambâncana, na ilha das Galinhas (a oeste de Bolama), em frente ao nosso acampamento, num banho ao pôr-do-sol como só África pode proporcionar. Isto porque a maré cheia – única altura em que se pode navegar e tomar banhos de mar – coincidiu com o pôr-do-sol. Enfim, uma boa compensação pelo dia extenuante de consultas. Três miúdos, sentados comigo na rebentação a atirar pedrinhas para contar os saltos das mesmas na água, começaram a perguntar coisas sobre Portugal. Peixe, em Kriol, diz-se pice, e existe cá uma variante do peixe-aranha (suponho que seja, não sei ao certo) que eles chamam peixe-areia, que causa o mesmo tipo de feridas que o primeiro em Portugal. A diferença é que aqui todas as feridas não tratadas infectam (é só pensar que até a água com que se lavam está cheia de bicharada), e tornam-se verdadeiras crateras, por vezes com exposição do osso, mas isso agora importa menos, calculo – não queremos impressionar os sensíveis e estimados leitores! Como dizia, estávamos nós na praia, e um dos miúdos perguntou qualquer coisa como

- “No Portugal tem pice-areia”?

Baralhado com a velocidade da pergunta e o Kriol usado (tenho sempre dificuldade em entender o que dizem as crianças estrangeiras), fiz uma tentativa de compreensão:

- “Sereias?”

- “Sim, sim!”

- “Sereias no Portugal??”

- “Tem?”

- “Bom, como é que eu vou explicar isto...”

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