sábado, 9 de agosto de 2008

Elogio ao energúmeno

Este é daqueles momentos em que se gastam todos os recursos disponíveis para aborrecer uma só pessoa. Desta vez, já que preciso de descarregar alguma imbecilidade que inutilmente carrego desde a minha partida (a que me é natural não é descarregável, obrigado), não me inibo. O visado responde por Luís Cruz, é funcionário da TAP, e estava no balcão de check-in aonde tive a infelicidade de dar à costa no dia da minha partida. Como é natural, quem parte para uma Missão humanitária leva uns quilos a mais de bagagem, de tal forma que a AMI fez até o esforço de protocolar com a TAP uma tolerância. A minha bagagem excedia a tolerância prevista, de acordo. Ainda assim, eu e os caixotes estávamos fardados de AMI, e expliquei que os volumes responsáveis pelo peso extra continham medicamentos e elementos essenciais para obtenção de financiamento para outra missão de desenvolvimento na Guiné. O zeloso funcionário, ao impedir que os caixotes passassem livremente, retorquiu:

- “Toda a gente tem os seus motivos.”.

Eu bem sei que isso é verdade, mais ainda num vôo intercontinental Europa-África. Também sei que ele só estava cumprindo o seu dever profissional e as instruções burocraticamente recebidas. Mais: em última análise, pode não ter significado grande diferença no espaço de tempo em que a Missão decorre – em anos, um mês e dois caixotes são coisa pouca. É tudo verdade, não tenho qualquer dúvida. De qualquer forma, mesmo com todas as abonatórias, ao ver o avião com metade da lotação por preencher, fui incapaz de não sentir algum desprezo pelo egoísmo e auto-protecção que podem ter impedido que algumas pessoas (que fosse só uma) pudessem ser mais bem tratadas, e que quase impediram a realização do outro projecto. Ele cumpriu criteriosamente a sua função. Só se esqueceu de ser gente.

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