domingo, 10 de agosto de 2008

Segunda passagem

E é assim! Parto hoje para Bolama, e volto no dia 5 de Setembro. Perdoem-me os meus amigos, mas mais uma vez o tempo (ou a falta dele) aqui em Bissau não me permitiu responder às deliciosas mensagens como gostaria (e como merecem). Parto triste com isso. A internet aqui é um verdadeiro pesadelo, não consegui fazer metade do que queria. Para mais, a situação política tem estado muito instável - o líder local passou de provável baleado a eventualmente preso e, actualmente, a presidente da República. África no seu melhor. A agitação foi muita, com detenção de conspiradores e muita insegurança nas ruas, o que, a somar à cólera que infecta 1000 pessoas por dia, gerou o caos total. Parece que houve algum juízo dos governantes e, por agora, isto não descambou num golpe de estado. A ver vamos. Só para dizer que não consegui. Só não quero que julguem que não ligo, que não presto atenção. Acho que já o que escrevi. :-)
Beijos e abraços a todos, com muitas saudades, vosso

Luís.

sábado, 9 de agosto de 2008

A razão de escrever

Inicialmente, a ideia era só registar o que ia vendo, pensando e sentindo, nem que fosse só para dar notícias e para poder comparar, daqui a 6 meses ou daqui a 20 anos, com o que pensarei nessa altura. Poder olhar para trás e dizer “ena pá, que puto!”. Pois é, foram os meus Amigos que me deram cabo do plano. A resposta recebida (nas mensagens aqui, nos mails e no telefone) transformou o objectivo deste registo, que agora me faz transportar todos os meus Amigos comigo em permanência, da forma mais próxima que alguma vez senti: a cada coisa que vejo, em cada situação que me faz querer escrever, penso e faço-o pelos meus Amigos, como se o pudesse contar ao fim da tarde na varanda lá de casa. Nunca quis tanto. Sinto-me imensamente grato e, sobretudo, vosso.

Baga-baga


Ora digam lá quem se lembrou primeiro: o Gaudi ou as formigas?

Pedidos úteis

O meu jovem amigo Bernardo, estudante da Tabanka do Wato, e o Senhor Professor do Ensino Primário em Bolama João Costa Mustás pediram-me dicionários de Português-Português, a fim de melhorarem o seu vocabulário. E esta? Poucos pedidos aqui me pareceram tão bons. Se alguém tiver algum que possa oferecer, e assim permitir que alguém aqui dê melhor uso ao tão maltratado Português, sou eu quem agradece do fundo do coração!

O meu Amigo Tu deseja ir correr comigo, mas faltam-lhe os ténis para o efeito. Não precisa de ser especial ou caro, ele queria mesmo uns como os da Diana, comprados na feira por 15€. Calça o nº 42-43, e eu gostava mesmo muito que viesse correr comigo.

O Date, Amigo sabedor, ficou sem emprego este mês (não teve culpa nenhuma, garanto eu), sem grandes soluções à vista. Quando lhe perguntei o que o preocupava mais, ele respondeu: “ a escola dos meus filhos”. É que a escola pública na Guiné-Bissau funciona de Janeiro a Maio, com muitas greves dos professores pelo caminho, porque não recebem. Assim, o Date – que de parvo tem pouco – pôs os filhos numa escola Evangélica, privada, que aqui são as melhores (das acessíveis), e funcionam de Setembro a Junho. Não gosto muito de pedir dinheiro, mas a soma é irrisória, e pode mudar efectivamente o futuro destes 3 jovens e do país:

- Maliki, 11 anos - mensalidade da escola: 2,5€;

- Valdir, 7 anos - mensalidade da escola: 1,5€;

- Malam, 5 anos - mensalidade da escola: 1,5€;

Lembro que sou eu quem garante o câmbio local e que a soma é paga à escola (tirarei foto!). Alguém se habilita a patrocinar os estudos destas crianças?

O mais difícil dos pedidos! Os Jovens Unidos de Bolama, clube de futebol onde milita o meu Amigo Tu como médio-centro, gostavam de usar todos a mesma camisola durante os jogos. Eles são 25, mas não serão precisas 25 camisolas. Se se conseguir, tanto melhor! Ainda assim, se só se atingirem 14 (11 titulares mais 3 substituições), já será mais do que bom. Lembro que também não precisa de ser nada oficial, nada muito caro. Talvez seja difícil para uma pessoa só, mas se os que aí gostam de desporto se organizarem, pode ficar mais fácil.

A próxima emissária e responsável por esta Missão parte de Lisboa a 5 de Setembro. Para tentarmos organizar isto, já que eu daqui não posso intervir mais do que por este meio (e mensalmente), proponho que, se alguém se decidir a enviar alguma destas coisas, o escreva neste blog, a fim de que a AMI não receba dezenas de dicionários, de pares de ténis e de camisolas! Peço o favor de enviarem por correio para a sede da AMI em Lisboa, da seguinte forma:

A/C Exma. Sra.

Enfermeira Cátia Guerreiro

Fundação AMI

R. José do Patrocínio, 49

1949-008 Lisboa

Depois publico aqui as fotografias das ofertas com os respectivos destinatários!

Letreiratura II





Cólera

Um pano torcido em merda até que não reste dele senão o poder de fazer torcer mais panos.

Abutres

Os abutres, pela primeira vez desde que cá estou, e precisamente na véspera de a abandonarmos, instalaram-se nos muros da casa. Todo o dia controlam pacientemente a nossa actividade, esperando a sua hora, como se a morte da casa já lhes cheirasse. Arrepiante.


Dia de folga

Ai que prazer
Não cumprir um dever
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.

O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta,
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por Dom Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...


Fernando Pessoa (cheio de absinto, convenhamos), Liberdade.

Couro e cabelo

Ontem (mesmo ontem) fui cortar o cabelo a um barbeiro aqui em Bissau. Maravilha. Entrei, sentei-me e, antes que começasse a sessão, perguntei quanto era, que isto de ser mpélélé acaba sempre nuns francos a mais. O barbeiro, apontando para um papel no topo do espelho, disse:

- “Está ali. São 1500 francos.”.

Olhei para o dito papel, que dizia:

Corte normal 1000 fcfa

Corte moderno 1250 fcfa

Corte de cabelos europeus 1500 fcfa

- “Cabelos europeus? Cabelos europeus?!” – perto disto, o “corte moderno” já me pareceu perfeitamente normal.

- “É que esses cabelos finos são mais difíceis de cortar”...

- “Ora aí está uma bela lógica, sim senhor... Já cortar a carteira, fica mais fácil com cabelos europeus”...

O meu primo Miguel é que tinha razão.

Fotografias soltas




















Curiosidade

Depois da independência, só este monumento sobreviveu ao vandalismo em Bolama. É em granito, pedra que aqui não há, e a maior parte das letras continua vermelha, o que demonstra alguma manutenção. Ao que apurei, a Itália fascista quis realizar um feito semelhante ao dos nossos Gago Coutinho e Sacadura Cabral, com a desvantagem de partir de Roma, mas o aparelho despenhou-se ao largo de Bolama. Olhando com mais pormenor, descobri esta inscrição.


“Mussolini aos mártires de Bolama”. A tradução directa seria “Mussolini aos caídos de Bolama”, o que ainda vinha mais a propósito, tratando-se da queda de um avião. No entanto, a minha Irmã linguista tratou de me cortar a piada. De qualquer forma, num país que ainda vive nas saudades da URSS, não deixa de ser muito curioso.

P.S. Esta só podia ser para o meu querido Amigo madeirense, exímio pensador e escritor Tiago Mendonça!

Consulta em Ametite

São Bijagós, começa e acaba assim. São Bijagós. E se são Bijagós, são fabulosamente desorganizados e eméritos consumidores de álcool. Falam uma língua imperceptível mas de bela sonoridade, constroem casas em cima umas das outras, são desesperadamente atrasados, não trabalham e bebem. Bebem como se não houvesse amanhã (até porque muitas vezes não há). Também são boa gente. Sim, isso são. Encontrei-os depois de atravessar mato dentro uma meia-hora de mota, com a pesada mochila de literatura e instrumentos da médica tortura às costas, a levantar os pés quando as cobras passavam por baixo da mota, a cavaquear com o Mustafá sobre os enredos de alcova locais. Eram 80 doentes. Já o Mustafá dizia que, se estivesse no lugar deles, e se visse 20 doentes à frente dele, ia no mesmo momento para casa, mesmo que doente, pois tinha a certeza que não ia ser bem visto pelo médico. Grande Mustafá. Tive direito a um tradutor, com ar leproso, de chapéu e camisola do Sporting, que se sentou à minha direita, tossindo como se me quisesse mostrar os seus pulmões. A mesa tinha uma toalha verde, oferecendo a condição de mesa de jogo, onde eu puxava sintomas, o da frente assistia (e às vezes atirava o próprio agente infectante), o do lado jogava interpretações, e eu voltava a cortar com medicamentos. Neste jogo singular, em primeiro lugar, percebi que não era preciso qualquer formação especial para se ser tradutor. Este sábio poliglota fazia as minhas perguntas em Bijagó e, mais alto e mais devagar, respondia-me em Bijagó. Brilhante. Para mais, por inúmeras vezes se repetiu a célebre cena de, a uma pergunta minha do tipo “E tem febre?”, o tradutor e o doente ficarem cinco minutos a conversar em Bijagó, para depois me responder o tradutor:

- “Não”.

Acho que já tinha visto 20 doentes, entre as dezenas de pessoas a entrar e a sair da minha sala só porque sim, os enxota-moscas às crianças que se aglomeravam na minha janela, os cumprimentos no meio da consulta a todos os notáveis locais que decidiam ir conhecer-me, as explicações para o povo que se aglomerava em cima dos doentes de que “a consulta e as doenças são de cada doente, não são da comunidade...”, a criança que me veio oferecer goiabas enquanto auscultava uma velhota que não percebia o que se esperava dela, o velho que pela janela me dizia que tinha dores de barriga enquanto eu consultava outro, enfim, tinha já visto 20 doentes, quando se sentou esta mãe com a filha epiléctrica à minha frente. A esta altura, o suor corria-me a fio pela ponta do nariz, dois cães sarnentos dormiam refasteladamente aos meus pés, e eu já nem estava ralado com isso. Do que percebi do meu Kriol, a mãe foi a Bissau, onde lhe mudaram os medicamentos todos (apesar de a filha estar bem com os outros), e a senhora queria que oferecêssemos um deles que a farmácia de Bissau não tinha. Depois de desistir de tentar perceber o porquê da troca, perguntei ao tradutor qual deles a senhora não tinha, a ver o que se podia fazer: falaram, falaram, falaram

não me saía da ideia a forma como o Charlie Brown ouvia a professora (fuan, fuan, fuan, fuanfuanfuan, fuan, fuan)

uma tentativa de fino recorte, esta

e falaram, falaram e tornaram a falar. Quanto mais falavam, mais desesperava, mais acelerava na pista da alucinação. Já delirante, perguntei ao tradutor:

- “E então?”

- “Ranho no nariz, tosse, catarro, e dooooooooooores no corpo.”

- “Ranho?... Ranho?! Mas estamos a falar de ranho, ou estamos a falar de Epilepsia?”

- “Ah! Não! Não é isso... Eu é que estou constipado!”

Agarrei-o pelos ombros, sacudi-o durante 5 segundos, soltando-lhe nos olhos um longo

- Aaaaaaaaahhhhhhhhhhhh!

e fui destruir à dentada umas bolachas de água e sal para o alpendre de trás, com os pintos a bicarem-me dos pés as migalhas. São Bijagós.



Agradecimentos inesperados

Ao meu querido Amigo Henrique Cabral, a quem devo, entre tantas outras coisas:

- poder escrever este blog;

- imensos “desbloqueios” em Bolama só por ser amigo dele;

- os livros dos Médicos Sem Fronteiras, de extrema utilidade;

- as tendas e as fabulosas estacas de areia, que me permitiram dormir seco no meio da tempestade;

- a lanterna de dínamo, que me deixa ver doentes no escuro e ler à noite;

- não me ter deixado trazer o equipamento de mergulho (é que este mar é veeeeeeeeerde.... veeeeeeeeeeeeeeerde – singela homenagem a Natália de Andrade, the greatest opera singer)

- uma bebedeira.

Aos Drs. Rui Anjos, Teresa Bandeira e José Gonçalo Marques, pela brilhante 2ª edição do Formulário de Pediatria, que, actualizado ou não, já manteve umas quantas crianças guineenses deste lado da vida.

À Pierre Fabre Dermo-Cosmétique Portugal, Lda., pelo fabrico do único repelente de insectos aceitável, de nome Pré Butix (loção). Um grande “ah e tal” para o Tabard, que já podia ir Tabardamerda (não resisti).

Lost in translation V


Estava na praia de Ambâncana, na ilha das Galinhas (a oeste de Bolama), em frente ao nosso acampamento, num banho ao pôr-do-sol como só África pode proporcionar. Isto porque a maré cheia – única altura em que se pode navegar e tomar banhos de mar – coincidiu com o pôr-do-sol. Enfim, uma boa compensação pelo dia extenuante de consultas. Três miúdos, sentados comigo na rebentação a atirar pedrinhas para contar os saltos das mesmas na água, começaram a perguntar coisas sobre Portugal. Peixe, em Kriol, diz-se pice, e existe cá uma variante do peixe-aranha (suponho que seja, não sei ao certo) que eles chamam peixe-areia, que causa o mesmo tipo de feridas que o primeiro em Portugal. A diferença é que aqui todas as feridas não tratadas infectam (é só pensar que até a água com que se lavam está cheia de bicharada), e tornam-se verdadeiras crateras, por vezes com exposição do osso, mas isso agora importa menos, calculo – não queremos impressionar os sensíveis e estimados leitores! Como dizia, estávamos nós na praia, e um dos miúdos perguntou qualquer coisa como

- “No Portugal tem pice-areia”?

Baralhado com a velocidade da pergunta e o Kriol usado (tenho sempre dificuldade em entender o que dizem as crianças estrangeiras), fiz uma tentativa de compreensão:

- “Sereias?”

- “Sim, sim!”

- “Sereias no Portugal??”

- “Tem?”

- “Bom, como é que eu vou explicar isto...”

Lost in translation IV

Alto, em Kriol, quer dizer latrina, quando esta é utilizada no significado mais sólido do termo. Deixemo-nos de preciosismos, sim. Adiante. Ao aconselhar o meu Amigo Date, que tinha entretanto torcido o pé, disse-lhe que o devia pôr em água fria (o gelo cá, compra-se), fazer compressão e repousar, pondo o pé no alto...

E.T.

Esta é uma história que começa a meio. Olhando para o passado, temos um homem que agora está nos seus vinte e poucos anos, e que era conhecido por não ser dos melhores filhos que Bolama já viu nascer. Segundo o que por aqui se diz, o que era dos outros nem sempre era visto dessa forma por ele, e quanto às suas intenções, parece que nem sempre cursavam pelos melhores caminhos. Independentemente da religião que cada um professe, aqui são todos animistas. Quando este jovem ficou doente, todos concluíram ser de elementar justiça, e provável resultado de um bruxedo lançado por uma vítima das suas acções. Fome e sede insaciáveis, urina a toda a hora, letargia, perda de peso e de força, um quadro (clínico para nós, mágico para outros) que, convenhamos, só podia confirmar a tese de bruxedo. Por consequência, foi deixado mais ou menos ao abandono, com incondicional e natural excepção da mãe, uma velhota cega e também dependente. Não sei bem quanto tempo se degradou assim, mas acho que foi o Fernando (meu predecessor) que o apanhou e teve um doce pensamento que o enviou para Bissau. Lá se conseguiu arranjar maneira (forma como tudo se faz aqui) de investigá-lo em Bissau – é preciso ver que não há segurança social, pelo que os doentes têm que pagar tudo à unidade, o que, em abono da verdade, para quem tem que pedir emprestado para pagar os 3 euros da canoa para Bissau, não é tarefa simples. Mas lá se fez, e não restaram dúvidas: a feitiçaria respondia por um nome – Diabetes Mellitus – e foi tão mal ou tão bem feita, que afectou milhões de pessoas em todo o mundo que não eram, por princípio, visadas: e tudo por um feiticeiro da Guiné! “Posto isto”,

expressão que uma conhecida professora com um conhecido peito nos Açores usava depois de ajeitar o dito quando se sentava à secretária, no início das suas aulas

“posto isto”, dizia, seguiu-se a primeira dúvida existencial: um doente que não tem para comer, menos tem para comprar Insulina. O crescente desespero quase conseguiu que se desistisse deste doente. Não há sustentabilidade nenhuma, ele como está não vai conseguir trabalhar, ninguém pode ou quer ajudar, nada a fazer. Sei que foi uma insistência da Diana, regada com muito choro dos dois, que enviou de novo este homem a Bissau. A AIDA (agência da cooperação espanhola que faz um trabalho notável no Hospital Simão Mendes, em Bissau) conseguiu oferecer insulina de libertação prolongada para início de terapêutica e o jovem voltou à terra natal. Aqui perco o fio à meada, mas sei que, quando o conheci, estava internado há 3 meses no hospital de Bolama (rotineiramente escrevo Hospital com H maiúsculo, mas este de Hospital só tem o mesmo o nome e os doentes). Mesmo com um diagnóstico, o espectro do bruxedo não desapareceu, e por um motivo ou por outro, acabou outra vez sozinho com a mãe, cadavérico, imóvel, em pele e osso. A Insulina, dividida em duas tomas diárias, era dada pelos enfermeiros de manhã, sendo que a da noite era a maior parte das vezes omitida, já que o frigorífico onde se conserva o fármaco estava fechado (o responsável não dá a chave a todos os enfermeiros) e muitas vezes não havia mesmo enfermeiro nenhum. O registo de glicémia capilar – a concentração de “açúcar” no sangue, parâmetro essencial em todos os diabéticos – apontava o valor de 136 mg/dL em 23 dias diferentes, a maior parte deles consecutivos. Pelo meio aparece um valor de 472, o que me garante que nesse dia, sim, foi efectuada uma medição. As unidades de Insulina administradas, fosse qual fosse a medição de glicémia, comesse ou não comesse, eram invariavelmente 30. Preocupados com a situação e cansados de tanta negligência, decidimos transferir a Insulina para a nossa casa, já que o frigorífico a gás tinha voltado a funcionar. No Hospital ficaram de tal forma radiantes, que espontaneamente nos trouxeram a Insulina a casa e (viemos a saber mais tarde) chutaram o nosso doente para casa. A descrição do dia-a-dia posterior seria por demais cansativa, e a história agora só não perde interesse, porque, num misto anti-bruxedo de endocrinologia e de reabilitação, este jovem começou a melhorar. Progressivamente, começou a ganhar peso, força e a conseguir largar os paus de apoio axilar que razoavelmente faziam as vezes de muletas. A esta data, faz a administração de Insulina autonomamente, e nós vamos controlando a glicémia e ajustando a dose. E isto tem tem alguma coisa que se lhe diga, num diabético que só come arroz, mas que, de vez em quando, só tem peixe ou mesmo nada para comer - nos dias em que se atrasa, fico com o coração nas mãos, a achar que o matei de hipoglicémia num canto qualquer. Enfim. Dá que pensar. Não sei o que o futuro vai ser, mas, para já, adiou-se o inevitável desfecho por uma insistência meramente pessoal.

Do ponto de vista social e moral, esta história assume, quanto a mim, um contorno bem mais interessante (quiçá mais discutível) do que o puro aspecto clínico. Estou certo de que não será só na Guiné que se possa pensar que um malfeitor não merece a mesma atenção do que outra pessoa (curiosamente, em Kriol, pecadur) na mesma necessidade. E em Bolama pensa-se isso. Ao fim e ao cabo, porque é que pegámos neste caso, quando há tantos outros no hospital que também precisam de atenção? Porque é que metemos este homem a ser tratado na nossa casa, privilégio que tantos outros "bons pecadores" queriam? Porque é que deixámos as crianças que estão no hospital à sorte daqueles enfermeiros? Eu sei a resposta da AMI, e sei o que jurei fazer antes de iniciar a minha prática clínica. Cada um se imagine nesta posição e dê a sua resposta. Na eventualidade de a perspectiva clínica deixar dúvidas, de não ser suficiente, acrescento um pormenor de fé pessoal: ao longo da vida, disciplinei-me a julgar o acto e não a pessoa. Sendo verdade que muitas vezes escorrego, tendo a pensar que um roubo é mau, mas não faz necessariamente do autor um ladrão. Não tenho a ingenuidade de pensar que este homem mudou, muito menos por aí passa a intenção de o tratar. Trato-o só porque está doente, mais nada. E não me interessa se vai voltar a roubar ou não – em rigor, porquanto não me roube a bicicleta, é-me indiferente. Ainda assim, despindo a bata (aqui, uma t-shirt que diz AMI) e pensado como o pecador que sou, tenho a sincera impressão de que a dependência transforma as pessoas. Para melhor ou para pior, isso já não sei. Mas o benefício da dúvida, esse, no meio das tantas conversas que com ele tenho tido (vem duas vezes por dia cá a casa, não resisto a papiá), já o dei há muito tempo. Numa das minhas idas ao hospital, vários dias depois deste doente sair de lá, ao cumprimentar os presentes no alpendre com um “Boa tarde” geral, esta velha magra, desdentada, sem um olho e com o outro opacificado em branco e azul (lembra mesmo o sabão), com um lenço azul na cabeça e um vestido guineense em verde-garrido, levantou-se, com as mãos secas e enrugadas estendidas, uma para a parede e outra para a origem do som, e começou a arriscar o passo na minha direcção: - “Luís?” Encontrando a minha mão na sua escuridão, abraçou-me longamente, e sussurrou, sem dar mostras de me querer largar: “obrigado, obrigado, obrigado...”*. Embora existam estas pequenas coisas que de forma duvidosa nos podem lavar a alma, não se pense que foi o reconhecimento que me causou impressão ou felicidade, porque o trabalho foi feito pelo objectivo em si. Só por si, um trabalho bem feito só pode dar satisfação. Simplesmente, só naquela altura parei para pensar no que estava a ser feito, e no impacto emocional e – não menosprezemos – social que a recuperação do filho tinha naquela mulher. Até ali, só tinha pensado no nosso doente. O reconhecimento é naturalmente – e desejavelmente – dispensável. O facto de nos termos sentido úteis, não. Mesmo que me julguem mal os de Bolama ou de outro sítio qualquer.

Tudo arrumado, só me resta uma questão:

O que se fará quando a Insulina acabar?

* Foi dito mesmo assim, e por isso escrevi tal como foi. No entanto, pela defesa do Português, não resisto a acrescentar que a expressão, do particípio passado do verbo obrigar (de ficar obrigado perante uma pessoa), concorda em género e em número com o sujeito; assim sendo, a velhota, se quisesse dizer alguma coisa, devia ter dito “obrigadA”. E pronto, está dito. Mas, sinceramente, isto é que é exigência: a mulher agradece, e eu ainda corrijo! Há tipos mesmo desagradáveis, co’a breca! Tenham paciência comigo, é o que vos peço. Muito obrigado. Com O no fim.

Elogio ao energúmeno

Este é daqueles momentos em que se gastam todos os recursos disponíveis para aborrecer uma só pessoa. Desta vez, já que preciso de descarregar alguma imbecilidade que inutilmente carrego desde a minha partida (a que me é natural não é descarregável, obrigado), não me inibo. O visado responde por Luís Cruz, é funcionário da TAP, e estava no balcão de check-in aonde tive a infelicidade de dar à costa no dia da minha partida. Como é natural, quem parte para uma Missão humanitária leva uns quilos a mais de bagagem, de tal forma que a AMI fez até o esforço de protocolar com a TAP uma tolerância. A minha bagagem excedia a tolerância prevista, de acordo. Ainda assim, eu e os caixotes estávamos fardados de AMI, e expliquei que os volumes responsáveis pelo peso extra continham medicamentos e elementos essenciais para obtenção de financiamento para outra missão de desenvolvimento na Guiné. O zeloso funcionário, ao impedir que os caixotes passassem livremente, retorquiu:

- “Toda a gente tem os seus motivos.”.

Eu bem sei que isso é verdade, mais ainda num vôo intercontinental Europa-África. Também sei que ele só estava cumprindo o seu dever profissional e as instruções burocraticamente recebidas. Mais: em última análise, pode não ter significado grande diferença no espaço de tempo em que a Missão decorre – em anos, um mês e dois caixotes são coisa pouca. É tudo verdade, não tenho qualquer dúvida. De qualquer forma, mesmo com todas as abonatórias, ao ver o avião com metade da lotação por preencher, fui incapaz de não sentir algum desprezo pelo egoísmo e auto-protecção que podem ter impedido que algumas pessoas (que fosse só uma) pudessem ser mais bem tratadas, e que quase impediram a realização do outro projecto. Ele cumpriu criteriosamente a sua função. Só se esqueceu de ser gente.

Mensagem

O dia estava a chegar ao fim, morto de cansaço e relativamente desconsolado. Na expectativa de uma compensação, liguei esperançadamente o meu telemóvel português e fui resolver as últimas coisas antes de me deitar. Alegria das alegrias, ouvi o telefone a apitar ao longe:

- “Uma mensagem! Tenho o dia ganho!”

Depressa cuspi o Oratol (esse grande colutório) e em passo rápido retornei ao meu quarto, para abrir, com um incontrolável e desinfectado sorriso, “1 nova mensagem”:

“O SAPO alerta que tem facturas em atraso. Regularize a situação...”.

Bah!

Presunção comparativa

O bravo Aquiles morreu pelo calcanhar, a parte do corpo por onde a mãe o segurou enquanto o engasgava nas águas sagradas (a pobre da senhora não quis molhar a mão, estava no seu direito). Este idiota foi picado no cotovelo, porque se esqueceu de pôr repelente no dito.

Pergunta menos difícil do que a questão

Como é que equilibro um diabético insulino-dependente com insulina de libertação prolongada quando ele só come quando há o que comer?

Falar mantenha

Significa, em Kriol, “cumprimentar”, e as pessoas em Bolama, por sistema (e acho que muito bem), falam mantenha. Mais – quando vou distraído, um infeliz e pernicioso hábito meu, reclamam:

- “Ka fala mantenha?” (“não cumprimenta?”)

Excelente. No entanto, a cada vez que um homem se decide a cumprimentar-me, oferece-me sorridente a mão direita, e, num gesto concomitante que todas as vezes me desconcerta, puxa os ditos cujos com a mão esquerda. Ainda não percebi bem o que se espera de mim nos cumprimentos.

Incorrespondência

Enquanto revirava uns papéis na preparação da mudança da casa, encontrei este.

“Exma. Sra. Dra. C.
Bolama

Assunto: pedido de Madrinha

A Associação (...). Vem atravez dos seus associados apresentarem os seus melhores cumprimentos e pela presente, temos a honra e prazer de solicitar a vossa Excia. afim de madrinhar a nossa organização.

Sem mais assunto de momento e ciente de que este nosso pedido merecerá uma especial atenção da vossa parte, reiteremo-nos deixando os protextos da mais alta consideração e estima.”.

Este foi-me dado (e autorizado!) pelo Fernando.

“Caro Amigo Doutor Fernando Melo

Espero continuação de boa saúde e felicidades: deste o teu amigo [V.]
A portadora desta minha carta, é a minha familia.
Pois, ela tem no corpo bastante fruncos e, faz-lhe manchas grandes, deixando bolhas grossas com bastante comichão e, sangrenta etc.
Agradeço, toda atenção com a doença que não deixa ela em paz quer de noite e dia.

Mui atentamente
Sou e sempre o teu amigo
V.”.

E mais um da Diana, também devidamente autorizado!

“Diana quer peder te um caderninho como aquele que tu tinha (Agenda) porque tinho muitos coisas para agendar.
Muitas veses eu escrevo ou agendar nas folhas ou entao nas cadernos, mas estes folhas sempre resga ou rompe. Favor eu te pesso um caderno como aquelo que tu tens.
Obrigado mesmo para outra mes.
Sou H.T.”.

Bicicaleta II

A minha bicicleta é de fabrico chinês, da fabulosa marca LAMS ARMSTRONG. A julgar pelo tipo de banco e estragos causados, deve ter sido pensada para homens como o homófono em causa.

Pantala Naga Pampa

Come and relax now
Put your troubles down
No need to bear the weight of your worries
Just let them all fall away

Bicicaleta

O meu amigo Tu (que é alcunha, já que o nome dele é – pasme-se – Walter Afonso) trouxe-me hoje uma bicicleta de Bissau, e a minha vida mudou. Bem sei que coisas ou pessoas não resolvem a desolação, nem era esse o objectivo. Mas ao dar por mim a pedalar como só um homem com um brinquedo novo consegue, seguindo pelas Tabankas, pelo mato, da cidade até à praia, dizendo adeus de braço estendido aos que com a mesma energia respondiam ao meu aceno, rindo com os cães atrás de mim, “branco” para cá, “preto” para lá, o vento na cara a não vencer a transpiração, não pude deixar de achar que esta coisa, que o não deixa de ser, era um brilhante remendo emocional.

Carinho

Triste, calado, à sombra do chapéu de aba larga, com os olhos fixados à água que passava no meu bordo da canoa, atravessava o canal de mar entre Bolama e São João. A manhã, apesar de radiosa e quente, assegurava-me que o dia não traria grande melhoria. Esta menina que seguia ao meu lado, aí com os seus 3 anos, meteu o seu braço por baixo do meu, alcançando e encerrando na sua pequenina mão alaranjada o meu indicador, encostou a cabeça no meu ombro e passou três ou quatro lentas vezes a outra mão pelo meu braço. Assim seguimos todo o percurso, de dedo na mão, encostados e calados. Só me largou quando saiu no outro cais. Há tanto tempo não me era dado, que nem sabia as saudades que tinha disso.

Lost in translation III

- “Este é Suleimane.”.
- “Suleimane, muito prazer! Eu sou Luís.”.
- “Doutor Souluís, prazer!”.

Bagueira

O nosso encontro não durou mais que um segundo, eu não cheguei a vê-la, mas causou inesquecível impressão. Corria eu atrás de um miúdo de 5 anos que tinha medo de brancos, quando me tocou o pescoço como um dardo, fazendo-me cambalear e errar o percurso. Em poucos segundos, a sensação configurava uma espada ferrugenta de dois gumes mal amolados a descer-me o pescoço, lentamente caminhando para o ombro, que me deixava incapaz de mobilizar a cabeça e o pensamento para qualquer outra coisa. A pele, num perfeito anacronismo, só agora levantava o alvo à volta das marcas do toque, branco no centro e vermelho por fora, como se empurrada por aquele veneno que agora me invadia e rapidamente se espalhava. De repente uma tosse discreta, um sino a tocar na mente:

- “Temos hidrocortisona, Diana? Temos adrenalina?”

A tosse – obviamente – deve ter sido apenas somatização de médico, o temido edema da glote e a eventualidade da morte em asfixia ficaram longe. Mesmo assim, dei comigo no meio do mato a pensar na estupidez de morrer assim. A dor, essa, ficou impregnada na minha memória (e longas horas no meu pescoço), e na plenitude me fez compreender o acutilante significado de um belíssimo termo inglês: excruciating.

Ataques

A convivência com os insectos vai sendo progressivamente mais tranquila, por necessidade óbvia de sobrevivência. Por tranquila não se entenda pacífica, que a guerra, essa, continua. Estou apenas a “habituar-me” a viver em guerra. Mesmo assim, não impede que os meus doentes dêem um salto na cadeira em reposta aos meus movimentos balísticos, a cada vez que um insecto se esfrega nos meus olhos ou orelhas.

Balanço intestinal

Faz hoje 3 semanas e 1 corte de cabelo que estou em África, e continuo à espera da diarreia (lagarto, lagarto!). Na lógica de o meu local de nascimento ter eventualmente preparado o meu intestino para isto, devo concluir que o meu Amigo Leichsenring (um, dois, três, diga lá outra vez), ao situar os Açores em “África e arquipélagos afins”, numa célebre missiva à nossa Confraria, não devia estar assim tão longe da verdade como em prolongada resposta afirmei. Como disse o Francisco em Bissau, “se é para não ter diarreia, não vale a pena vir a África.”.


Pigs on the wing


Os animais andam todos à solta em Bolama. Vacas, porcos, cabras, ovelhas e galinhas, todos gozam de plena liberdade. Chega ao ponto de até da nossa própria casa sair de vez em quando uma cabra (quadrúpede), e de o nosso quintal ser habitualmente frequentado por porcos (idem). A ideia é bastante simples: como ninguém tem o que dar de comer aos animais, eles que procurem o seu próprio alimento. Há que dizê-lo, a verdade é que encontram. Isso e entretenimento, que os porcos não se intimidam com nada quando alegremente chafurdam nas poças da estrada. Pensando nisto, intrigou-me de princípio como é que cada proprietário saberia quais daqueles animais eram seus. Sim, dentro da mesma espécie, são todos bastante parecidos, fica difícil. Na pesquisa da solução, dei com alguns regulamentos interessantes, auto-impostos pela própria população, a saber:

- os animais devem ter uma pequena marca que os identifique (em alguns é notória, na maior parte não me apercebo);
- as hortas devem estar vedadas, de forma a que os animais não entrem;
- se algum animal entrar numa horta vedada, o dono da horta pode abatê-lo, devendo depois comunicar ao dono do animal o sucedido; ainda assim, não o pode comer, por força do ponto seguinte;
- se alguém matar furtivamente um animal alheio, fica sujeito a feitiçaria, que assegurará, à falta de sistema judicial, que o criminoso se envenene na própria presa; o mais interessante disto é que, assim, nem é preciso identificá-lo.

Parece que não há roubo de animais em Bolama. A auto-regulamentação associada à feitiçaria, verdadeira garantia de paz social.

Saldo deste texto: menos 15 mosquitos em África.

Relíquia

Fazendo uma limpeza aos fármacos da casa, descobri essa fabulosa peça do imaginário higiénico da geração dos meus pais que nunca tive o prazer de conhecer: a pasta medicinal Couto! E com fabrico de 2006! Agora que se abriu a porta para essa dimensão do imaginário alheio, estou na veemente expectativa de encontrar o Restaurador Olex.

“Um preto com o cabelo loiro? Um branco com carapinha?”.

Lost in translation II

Os Bijagós, quando querem demonstrar muita estima por uma pessoa, inclinam o tronco um pouco para a frente, para que a pessoa estimada possa saltar para as suas costas. Pelo que sei, é um gesto que não se vê com muita frequência, o que, bem vistas as coisas, até tem alguma lógica. A Tia Camião (é a alcunha da Senhora Dona Súncar, com os seus 70 anos), mulher do líder da Tabanka de Madina, resolveu demonstrar assim a sua simpatia pela Diana. Sem perceber o que era esperado dela, e sem se lembrar de coisa melhor para fazer, a Diana puxou a sua mão atrás, e (“aqui vai disto”) deu uma estrondosa rabada na primeira-dama de Madina.

Coisas de África III

Tenho a impressão de que até as cabras locais gozam comigo:

- “Bra-a-a-a-a-a-a-a-a-a-anco, bra-a-a-a-a-a-a-anco”.

On the run

Ninguém corre por desporto em Bolama, com excepção feita ao médico da AMI. A julgar pelas interpelações, devo ser o primeiro.

Situação I

- “Onde é a desgraça?” (genuinamente preocupado, pronto para me ajudar)

Situação II

- “Quando eu tiver sapatos de corrida, vou correr contigo.”.

Situação III

No primeiro dia em que corri por Bolama, dei comigo (inadvertidamente) a atravessar alguns bairros. “Não há-de ser nada”, pensei. As crianças, que noutra situação qualquer gritariam “brancoooooo”, nem isso conseguiram fazer: rebolavam no chão, de dedo apontado para mim, chamando mais e mais amigos, rindo como se não houvesse amanhã... Desmoralizante.

Lost in translation

A AMI organizou em Bolama uma Marcha para a Saúde, que atravessou a ilha desde Bolama de Baixo (no extremo ocidental) até à Praça (forma como é tratada a cidade de Bolama, no extremo oriental), e no fim houve direito a um concurso de karaoke, só para alguma diversão e distribuição de bonés. Ora bem: quando o vencedor se aproximou da Diana – no caso, representante da AMI na entrega daquele prémio – inclinou ligeiramente a cabeça para a frente, a fim de receber o ambicionado boné. A Diana, achando que a aparente vénia se tratava de um costume local (“ofender é que não”), replicou com outra vénia. O primeiro, na ânsia de perceber a demora em receber o boné, levantou a cabeça para ver o que se passava, recebendo, em vez de um boné, uma bela cabeçada. De partir o côco, mas a rir...

Primeiro embate

O texto seguinte foi propositadamente omitido com base num conselho jurídico (grandes Monty Python...). Não sei se alguma vez o poderei publicar, nem tem tanto interesse assim, mas fica o registo dessa fortíssima intenção.













E pronto, o blog segue já a seguir, com a rubrica “Lost in translation”!