domingo, 9 de novembro de 2008

Dra. Fatumata Baldé

A Fatumata, que a AMI trata por Fatu e os amigos por Mata, sem ter qualquer tipo de preparação ou de gesto baseado em evidência, tem um especial olho clínico. De tal forma parece acertar, que nos achaques que vão afectando a equipa de expatriados e a própria família dela vou muitas vezes pedir a sua opinião, fonte garantida de sucesso e de diversão. Das melhores de todas, duas ainda me fazem rir. Andava uma das expatriadas subfebril num período particularmente mau de trabalho e de deslocações sem condições, e veio suspirar lamentações de Malária comigo. Não hesitei: em passo de chinelo compassado fui à cozinha buscar um copo de água que me arrefecesse a ideia do Plasmodium, e enquanto abria o Nino (nome de baptismo do nosso recente frigorífico a gás em miniatura – aquele que, sendo pequeno, guarda tudo), pedi a opinião da nossa Doutora – que já a Daniela vinha apregoando sorridente – que esfregando com um pano o balcão e sem ver a doente, calmamente sentenciou:

- Isso não é Paludismo – é canseira.

Mais nada. Fosse canseira ou não, a verdade é que passou com Paracetamol. Semanas depois, outra das expatriadas – cujo sindicalista intestino, perante a gritante falta de condições laborais, partira para a greve à primeira refeição em África – teve (enfim!) uma ida normal à casa-de-banho a meio da noite que se seguiu à evacuação de um doente com Cólera no nosso carro. Apanhei-a às seis da manhã de pé, a perguntar-me se devia começar a terapêutica ou não. Tentei tranquilizar como pude, mas a Mata foi muito mais eficaz do que eu:

- Não é Cólera – é mêdi.

Passem-lhe já o diploma... “Penso”.

1 comentário:

Anónimo disse...

Mais do mesmo...Fatumata !
(Esqueceste-te desta, Pirata! Ou deixaste para mim ?)

Esta reza assim:
Ia eu a passear com a Mata nas ruas de Bolama, entre porcos, cabras, galinhas e os inevitáveis “brancos-mpelelés” repetidos, com um calor “de matar pretos” (ou, neste caso, “brancos”), como só África nos pode oferecer, quando a ilustre senhora se sai com esta:
- Isto hoje está mais fresco e, em Dezembro, faz frio.
Imaginei que, mesmo que ficasse “mais fresco” e que a temperatura baixasse, assim de repente, 10ºC num mês, ainda ficava a bonita temperatura de 30ºC – frio, portanto. Disse:
- Oh, Mata! Frio? Frio é em Portugal.
Ao que ela, mais uma vez assertivamente, respondeu:
- Pois é, Sara. Isto não é frio, é vento!

Lá está ... A frescura da brisa de Dezembro!

Com um grande beijinho para a Fatu e muitas saudades de ter “o corpo quiiiinti”.
Pi.